domingo, 5 de maio de 2013

É necessário educação para estudantes dotados e talentosos?


Primeiramente, quero pedir desculpas aos meus leitores pelo atraso nas postagens. Realmente estou em dívidas com vocês. Farei o possível para que isto não ocorra mais, ou pelo menos com muita frequência. Bem, dito isso, vamos ao assunto.

Dentre os vários mitos que cercam crianças e adolescente dotados e talentosos é o de se pensar que eles não precisam de educação, em seu âmbito de instrução, pesquisa e acompanhamento, assim como um trabalho ético para desenvolver-lhe a moral. A lógica que alicerça tal certeza é a seguinte: como tais pessoas possuem capacidade acima da média para aprenderem, podem ser deixados sozinhos para desenvolverem suas tendências.

Até certo ponto, essa visão tem uma razão de ser, uma vez que, quando identificado o sujeito com dotação e talento, percebe-se um ser que se revele com um poder de aprendizagem em uma ou várias áreas do conhecimento humano que pode impressionar profundamente o observador, ou até mesmo chocar, dependendo do tipo de potencial descoberto. Vê-se, em alguns casos, uma aparente autonomia para tudo compreender sem ser preciso orientador de outra pessoa, embora esta já possua certa experiência em tal ou tal conteúdo.

Porém, isso se constitui um equívoco que muito contribui para obstaculizar iniciativas de atendimento a crianças e adolescentes dotados e talentosos. Apesar de assim se mostrarem, não possuem garantias de que vão desenvolver seus potenciais simplesmente por tê-los. É imprescindível o apoio dos mais experientes. Estes podem ser oriundos da própria família, pessoas de sua comunidade (comerciantes, professores de artes, empresários, líderes comunitários, fabricantes, etc), acadêmicos (professores e estudantes), etc. Todos aqueles que tenham algo a oferecer, enriquecendo a diversidade de opções. Pessoalmente, penso que não se pode escolher qualquer indivíduo para ensinar o público aqui em questão, mas sim aquele que possua reais condições de saber/conhecimento, de experiência e de conduta moral para servir de exemplo em termos de comportamento. Entretanto, isso é um outro ponto a ser abordado e em outra postagem.

Um exemplo de acolhimento e de orientação a crianças e adolescente dotados e talentosos digno de nota é o CEDET (Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento) e da ASPAT (Associação de Pais e Amigos para Apoio ao Talento), ambos com cede em Lavras, Minas Gerais. Com base nas diretrizes teórico-práticas da professora doutora Zenita Cunha Guenther, PhD em Psicologia, pesquisadora incansável na área da Educação Especial, particularmente no tema da dotação e talento, estas instituições dão suporte às crianças e adolescentes dotados e talentosos, ajudando-os a suprirem suas necessidades educativas especiais em suas especificidades, dependendo de suas tendências.

Muito diferente do que se encontra nas escolas em geral, pois são estruturadas para atender os de pensamento mediano, ou seja, os que se apresentam média. Apesar de legítimos avanços no pensamento pedagógico que apontam para a urgência de novos instrumentais para as instituições educativas e para profissionais mais bem preparados para coordená-los junto aos estudantes, assim como de um programa de formação continuada, ainda se observa velhas práticas que traduzem despreparo profissional ou a persistência de um sistema arcaico e conservador de ensino, que mais obstaculiza do que ajuda ao seu público a avançar na aprendizagem.

Pode-se mesmo ter escola adequadamente estruturadas, com diversidade abrangente de ambientes de aprendizagem, com laboratórios de informática e de ciências, sala de leitura climatizada e com acervo amplo de livros e revistas, auditórios para apresentações várias, espaço rico para convivência... no entanto, os responsáveis por coordenar as atividades que ali acontecem se mostrarem presos a um conceito desatualizado de educação, formas ultrapassadas de se conceber o processo de ensino-aprendizado e sua forma de avaliação (a mais comum é a avaliação classificatória) e com profundo desconhecimento sobre os princípios que regem a educação especial, especialmente os que tratam dos que estão acima da média.

Conheço laboratórios de ciências que mais parecem depósito de livros didáticos (a gestão da escola não encontram um local para colocá-los e os entulham no laboratório "temporariamente") e com materiais com prazo de validade vencido. Vários professores, por não se acharem capazes de manusearem instumental específico (um dos motivos é porque não tiveram formação acadêmico-escolar para tanto), simplesmente se abstém de levar seus estudantes para o laboratório de ciências, salvo quando há um profissional responsável para reger o laboratório. Logicamente, a situação é mais patente quando se trata de escola pública, inclusive sendo bastante difícil os gestores estaduais, municipais e escolares investirem em profissionais para ambientes especializados, como os já citados.

Ao contrário da realidade supracitada, a parceria entre o ASPAT e o CEDET oferece uma estrutura pedagógica que se preocupa com as especificidades de cada indivíduo atendido. Este é acompanhado atentamente, tanto na escola formal/regular, como em seu ambiente familiar, assim como na própria instituição, ajudando-o a descobrir e a desenvolver o mais adequadamente possível o seu potencial e talento. Por muito se preocupar com o ser em sua especificidade, busca alternativas para dar-lhe suporte educativo, por exemplo, buscando parcerias com profissionais (liberais ou não) da própria comunidade ou do âmbito acadêmico.

A criança e o adolescente dotados e talentosos, encontram, portanto, um verdadeiro espaço onde podem encontrar orientação segura e constante para seu potencial. Um verdadeiro oásis para "matarem" sua sede de conhecimento e realização!

Se eles precisam ou não de educação, de um tratamento pedagógico especial, não há dúvida quanto a isso. Penso que não se deve mais perder tempo com tal dúvida. Necessário é que se invista tempo, capital e recursos (humanos e materiais) para suprir as deficiências de atendimento aos mais capazes, aos que são dotados e talentosos, seja no processo de sua identificação, passando pelo seu acolhimento e, enfim, o oferecimento de uma educação que sintonizada com suas legítimas necessidades.

Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do CEDET e sua parceria com a ASPAT, sugiro o vídeo aqui postado. Pode-se fazer o download da sua edição completa pelo Youtube.