segunda-feira, 22 de abril de 2013

Refletindo um pouco sobre as pessoas acima da média

Quando me aventurei a estudar pessoas que demonstram diferencial em uma ou várias áreas do conhecimento humano, as características que mais me chamaram a atenção, logo de começo, foram a concentração que empregam em seus estudos e experimentações, a dedicação empregada, o compromisso com o que estão fazendo, a persistência em atingir seus objetivos (apesar das adversidades) e a continuidade no raciocínio e nas descobertas. Tudo isso parece ser alimentado (e guiado) por uma motivação constante, alimentada, por sua vez, pela ampliação do saber, por novas descobertas.

É notável o foco em algum assunto ou experimento. Há como que uma mobilização de toda (ou pelo menos de grande parte) atenção possível para penetrar as nuances do saber em pauta, destrinchando segredos das leis da natureza ou mesmo criando novas perspectivas de observação dos fenômenos da vida.
Há também - e isso não pode ser descartado - inúmeros fatores estimulando o indivíduo a se dedicar e a continuar em suas atividades, que vão desde objetivos pessoais, até exigências socioculturais para ter acesso a uma maior qualidade de conhecimento. O prazer em descobrir, ter um desempenho significativo na escola,  ser aprovado em um curso desejado numa Universidade de qualidade, senti-se projetado pessoal e profissionalmente, etc.

Outros dois fatores não menos importantes que contribuem bastante para o sucesso de pessoas acima da média é o apoio da família e do Estado. Hoje se sabe que a capacidade superior de uma pessoa não pode ser deixada por ela mesma, como se uma criança, por exemplo, avaliada como acima da média tem condições de, sozinha, desenvolver seu potencial com um mínimo de interferência da família e dos profissionais que a cercam. Pelo contrário, a família e a sociedade precisam intervir para orientar e dar condições materiais e psicológicas. A dotação e o talento precisam de apoio, e tal apoio precisa ser firme e fundamentado.

Um exemplo interessante das características inicialmente citadas e de apoio familiar (menos do pai) e da escola é o de Mariana Silva Vilas Boas. Li pela primeira vez sobre esta jovem num artigo da revista Isto É, de 7 de Março de 2012. Marcou-me principalmente a sua persistência nos estudos e realizações, apesar de várias adversidade, estas podendo ser motivo de desistência para aqueles que possuem ânimo frágio.

Primeiramente, as condições financeiras nada favoráveis para ter acesso a uma educação de qualidade. Aproveitou oportunidade de ganho de bolsa para estudar numa escola particular e foi bem-sucedida. Primou por "segurar" o benefício, conseguiu obtendo boas notas. Permitiu-se ampliar seus horizontes e sonhar com uma futura carreira na medicina e com muito "suor" conseguiu. No fim das contas, passou em nove Universidade públicas. Optou cursar medicina na USP.

Sua trajetória denota firmeza de objetivo, uma forte motivação para alcançá-lo, compromisso com o seu sonho e com o conhecimento e continuidade em suas atividades escolares. Logicamente, há todo um apoio necessário de pessoas da família e da própria instituição escolar na qual estudou. Como também a presença de um fator (inclusive exposto no artigo da citada revista) importantíssimo: o da mudança de mentalidade que vem ocorrendo com a juventudo atual: a de que pode almejar uma educação superior, não importando a classe social de origem.

Embora haja ainda sérias lacunas a serem preenchidas pela Educação pública (condições físicas precárias, serviço deficitário de distribuição de internet banda larga, recursos não repassados para investimento nas escolas, baixos salários para os profissionais que trabalham direta ou indiretamente com a educação, distância ainda persistente entre escola-família, etc), está acontecendo uma revolução no pensamento dos estudantes de hoje. Estes estão tendo maior acesso à cultura e suas práticas. Estão adquirindo, com isso, maior poder de raciocínio e melhores condições de auto-valorização. Percebem-se, com isso, mais capazes de fazer projetos a curto, médio e longo prazos. Estão melhorando sua auto-estima.

Claro que, repito, falta muito para melhorar o quadro da educação pública, mas a mudança está acontecendo e as pessoas que demonstram capacidade acima da média em algum domínio (ou alguns domínios) humano tendem a se beneficiar com os avanços (por mais que sejam incipientes) e estão começando a mostrar seu forte potencial de superação, transformação e (auto) motivação.

Um toque pessoal...


Desde que comecei a gostar de estudar, iniciei minha jornada de entender o mundo por outras perspectivas. Primeiramente, percebi-me com mais valor enquanto ser humano. Não querendo afirmar que quem não gosta de estudar não tem o seu valor. Não é isso. Todo ser humano tem seu valor. No meu caso, pelos estudos cresci em valor. Isso porque descobri, finalmente, qual era o meu ponto forte, o que mais me dava prazer e ânimo na vida.

Nessa mudança de ponto de vista, há outra que foi acontecendo, não necessariamente em paralelo. Mas, até certo ponto, permeou o processo: foi o sentido de DESOBRIGAÇÃO em estudar. 

Normalmente, o indivíduo, notadamente em sua fase escolar, tem nos estudos uma obrigação, um dever a cumprido para chegar a resultados satisfatórios, quando condições como dedicação, compromisso e apoio escola-família estão sendo levadas em consideração. No meu caso, houve algo diferente: essa obrigatoriedade foi dando lugar a um tipo de "Prazer", a gosto contagiante pelo saber, pela aprendizagem, pelo entendimento.

Logicamente que a questão da obrigatoriedade é importante, ela é mesmo necessária para, dentre outras razões, até para impulsionar (se bem compreendida e bem dosada) o indivíduo e a própria sociedade ao progresso, tanto em termos de conhecimento, quanto em moralidade.

Entretanto, ao mesmo tempo que o gosto pelos estudos se tornava patente e significativo, percebi que possuía também uma profunda lacuna em minha formação escolar. Não porque tenha estudado em escolas de baixo nível. Não é o caso. Mas simplesmente em razão de não ter interesse nos estudos. Não sentia motivos reais para me dedicar ao conhecimento. Tinha motivos, porém, não os sentia, não os apreciava.
Iniciou-se um período para suprir as deficiências escolares, principalmente porque estava em período de término do ensino básico. Isso mesmo! Quando tomei gosto pelos estudos, já estava cursando o pré-vestibular e precisava agir logo, pois iria ter que frequentar as salas escolares, ou mesmo de cursinhos durante muitos e desanimadores anos!

"Me virei", literalmente. Li o que pude. Tentei preencher as lacunas que pude. Depois de dois anos, a Universidade! Optei pelo curso de Pedagogia, não só em razão de ter sido uma forma mais fácil de entre num curso superior (no meu tempo, a concorrência era baixíssima), mas por alimentar um desejo de conhecer mais as disciplinas e de ajudar os jovens, através do ensino, perceberem seus talentos e a desenvolvê-los, superando obstáculos do dia a dia.

Foi na Universidade que a minha motivação pelo conhecimento "explodiu", aumentou consideravelmente. Minha curiosidade, principalmente pela Filosofia (cursei a disciplina Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação I e II) e pela psicologia humana, cresceu consideravelmente. E nesse processo, interessei-me pelo que é hoje um dos meus principais foco de estudos: pessoas dotadas e talentosas.

Ainda incipientes, todavia ganhando maiores proporções, meus estudos estão ganhando continuidade e adentro mais e mais o tema. Pessoas dotadas (por muitos estudiosos chamadas de superdotadas) e talentosas, acredito, tem muito a ensinar a todos nós. A dedicação que demonstram em relação ao seu objeto de interesse, a concentração e o nível superior de qualidade em suas produções (escolares, acadêmicas ou informais), são-lhes marcantes e uma fonte de inspiração a todos que buscam o saber e um condição melhor de se relacionar com o outro e com o mundo.

Entrei, pelas leituras e pela observação direta, em contato com personalidades de tirar o fôlego! Pessoas "fora do comum", acima da média, algumas das quais se perdendo no Sistema Público de Ensino, seja por não se ter professores capacitados para identificá-las, seja (também) por falta de estrutura adequada para oferecer um suporte didático mais adequado, seja (também) por não haver uma parceria entre escola-família-sociedade (comunidade) para um trabalho conjunto, unificado.

Vi muito se trabalhar a deficiência do aluno, mas não a eficiência. Percebi que a escola, notadamente a pública, preocupa-se bastante com as dificuldades dos estudantes, e não adequadamente com seus pontos fortes. Imagine-se quando isso está relacionado com estudantes dotados e talentosos. Eles se perdem num "mar" de obscuridade e desinteresse em relação ao seu potencial.

Por esses e outros motivos que criei este blog. Através dele, desejo, como falei em minha primeira publicação, quero divulgar os feitos de pessoas que se dedicaram, e se dedicam, ao conhecimento e ao próprio ser humano, inclusive abrindo espaço de discussões sobre pessoas dotadas e talentosas, seu "jeito de ser", teorias que explicam sua capacidade superior de aprendizagem e produção, como também proporcionar um ambiente em que se converse sobre as contribuições que oferecem à sociedade.

Bem, amigos leitores, vamos a mais exemplos!

Boas leituras!

Alan Nasser - O Pesquisador